Admistrando Atos e Pensamentos
A minha proposta é trazer a todas e todos um blog que aborde diversos temas. Aqui não tem Direita ou Esquerda. Este é um lugar para uma discussão ampla e aberta. Bem-vindos ao Blog Administrando Atos e Pensamentos. Estão abertos a promover uma dialética? Então, aguardo vocês!
quinta-feira, 29 de julho de 2021
terça-feira, 20 de julho de 2021
quarta-feira, 14 de julho de 2021
domingo, 26 de abril de 2020
Pode falar, eu escuto!
Pode falar, eu escuto!
Uma trajetória, puxe a cadeira, se
recoste que sou todo ouvido. Aos olhos, as lágrimas, ao suspiro, o ar quente,
ora suave, ora ofegante. A calmaria da superfície ao movimento ritmado do
submerso eu.
Pode falar que sou todo ouvido, olho,
observo, vejo e não entendo, não compreendo. Novamente mergulho nas lágrimas
que molham e não rolam, vejo e não entendo.
O movimento nas artérias que levam o
sangue da vida pelas vias centrais e laterais dos caminhos obstruídos por
pensamentos inconclusivos. Sou eu, doutor? Onde os passados e o presente se
encontram e trazem as formatações inconclusivas do agora? Sou eu, doutor?
A criança de abdome distendido à margem
do canal caminha, as mãos daquela que trouxe ao mundo, segura, e o cachorro morto
nas águas sujas repousa. Não há profundeza, há um filete de água mal cheirosa.
Tomate, senhor? Tomate, senhora? A
carne chegou agora, vai querer? A porta da casa ao lado dos tabuleiros dos
feirantes. Pode falar, estou escutando… Fique à vontade.
A inquietação da mãe menina, o ferro de
engomar a carvão, pesado, café o cheiro. À frente de casa, o chão vermelho, a
cerca de madeira, bate a foto, papai.
Sobe agora o elevador, ascensorista, o
último andar, lá a casa do administrador. O olhar sobre a cidade, segue o rio,
águas escuras, mas segue o rio. Pode falar, estou ouvindo.
À margem do rio, os peixes a vender em
pequenos sacos plásticos, estes eu não poderia tê-los, dá azar, menino. Puxe a
cadeira, pode sentar. Estou ouvindo.
A ponte, atravesso, na esquina o
colégio, Maurício de Nassau, da cidade maurícia. O olhar, as lágrimas que não
rolam, os olhos que se umedecem. Pode falar, estou ouvindo.
O primeiro contato, as primeiras
lições. Descobri, nós não morremos, a vida é eterna. Os olhos se abrem, a
respiração ganha outro ritmo. Agora eu sou.
Durante as descobertas, um freio. “Você
é responsável pelos corações que conquista”. Como interpretar? O que é isto,
interpretar? Posso, não posso? Sou responsável?
Pensei que podia, mas as águas dantes
tranquilas na superfície parecem inquietar. “Aqui você é livre, nada é
proibido” Engodo. Pode falar, estou ouvindo.
1964 esta é a data, nos braços do avô,
o grito ao redor, corre meu avô, sobe as escadas do edifício Joaquim Nabuco.
Feche a porta, a revolução estourou. Os tanques na rua. O olhar assustado, a
respiração agora ofegante. O passado não tão passado, ajudando a construir o
presente não tão presente. Que futuro?
Pode falar, estou ouvindo. Ah, sei que
o amanhã seguirá e navegará nas artérias do meu Recife.
Vô, quem são estas mulheres? São as
polacas, meu neto. O que elas fazem aqui na rua, sorrindo e conversando com
estes homens mal arrumados? Trabalham, meu neto.
Descobri que não morro, ninguém morre,
desencarna. Descobri que aqui nada é proibido, mas, tudo é proibido.
Um grito, o silêncio, a injustiça, a
fome, o poder, a caridade, evoluir, crescer, aprender, a fome, um grito, o
silêncio, a injustiça, a fome, o poder. Quem pode? Quem tem direito? Você é
pobre, você é negro, você não é você.
O Terreiro, o centro, a igreja, as
encruzas. Que loucura. Pode falar, estou ouvindo.
As lágrimas não rolam, mas molham. As
águas calmas, mas as profundezas se agitam. Mergulha, descobre, se inquiete,
descubra. As veias levam o sangue nas artérias do meu Recife.
Roberto Efrem
sexta-feira, 24 de abril de 2020
quinta-feira, 23 de abril de 2020
quarta-feira, 22 de abril de 2020
Assinar:
Postagens (Atom)